Tomates, porcos e seres humanos

Tomates, porcos e seres humanos

Disciplina:

Língua Portuguesa/Literatura

Ciclo: Ensino Médio
Assunto: Linguagens verbal e visual; gêneros textuais: documentário; argumentação
Tipo: Filme

Onde encontrar: http://www.portacurtas.com.br

A força do curta-metragem “Ilha das Flores” (1989), além, evidentemente, do tema humano e social, reside numa estratégia argumentativa que seduz e engana o telespectador, que não consegue perceber o tema verdadeiro do filme, só revelado pelo diretor, Jorge Furtado, nos instantes finais, depois de vertiginosa sucessão de imagens.

A sugestão de aplicabilidade agora desenvolvida pretende ilustrar possibilidades outras além das tradicionais que o filme suscita e abrange áreas da linguagem e leitura de texto verbal e visual.

Narrado numa linguagem de documentário, o filme pretende um tom de neutralidade. É exatamente esse tom asséptico e pretensamente didático que é responsável por desencadear a carga emotiva do filme, já que entra em contradição com as imagens, gerando uma constante quebra de expectativa.

Sugestões de atividade:

  • Trabalhar gêneros textuais: Seria interessante discutir, antes do dia da projeção do curta, o que seria um documentário.
    Após a projeção, discute-se se “Ilha das Flores” é um documentário e qual a especificidade desse gênero.
De acordo com o próprio diretor, Jorge Furtado, “Ilha das Flores” é uma paródia ao documentário do modo expositivo de representação com o objetivo de criar uma empatia, através do humor, para melhor provocá-lo na seqüência final. “Para convencer o público a participar de uma viagem por dentro de uma realidade horrível, eu precisava enganá-lo. Primeiro, tinha que seduzi-lo e depois dar a porrada.”
(FURTADO, Jorge. Um astronauta no Chipre. Porto Alegre: Artes Ofícios, 1992, p. 63).
  • Antes de iniciar a projeção, seria interessante estimular a curiosidade dos alunos, propondo algo como: O que há em comum entre tomates, porcos e seres humanos?
De acordo com Renata do Amaral, uma sinopse feita pela própria equipe do filme diz que: “Um tomate é plantado, colhido, transportado e vendido num supermercado, mas apodrece e acaba no lixo. Acaba? Não. ‘Ilha das flores’ segue-o até seu verdadeiro final, entre animais, lixo, mulheres e crianças. E então fica clara a diferença que existe entre tomates, porcos e seres humanos.”

AMARAL, Renata. A polifonia no curta-metragem Ilha das flores.

Ao final, buscar as diferenças e semelhanças entre tomates, porcos e seres humanos, resgatando as respostas iniciais e confrontando-as.

  • Algumas perguntas com relação ao objetivo do filme:
    Qual o propósito do diretor ao avisar, antes do início da história?
    – Este filme não é ficção
    – Esta não é a sua vida
    – Deus não existe

Solicitar, também, que sejam identificados os questionamentos que estão por trás da trajetória do tomate, do momento em que é plantado até chegar ao lixo.

  • Com relação às linguagens verbal e visual, chamar a atenção para a contradição que existe entre a linguagem verbal, a narração, a voz “oficial” e a linguagem visual, imagética e sonora, relação permeada pela ironia. Clique aqui e veja alguns exemplos.
  • Quanto à argumentação – O documentário é um texto argumentativo que pretende levar seu receptor a uma determinada conclusão. Seria interessante levar os alunos a identificar qual seria a tese, os argumentos e as estratégias desenvolvidas em Ilha.
Existem vários tipos de argumentos, dentre eles, o argumento
– de autoridade
– baseado em consenso
– baseado em provas concretas
– baseado no raciocínio lógico

É interessante notar que há um discurso pretensamente científico, que se caracterizaria como argumento de “autoridade”; a cada novo elemento do filme, o narrador emite um conceito que, embora correto, apresenta uma visão inusitada, estranha, diferente do tradicional. Clique aqui e veja alguns exemplos.

Entre as estratégias argumentativas usadas com a finalidade de convencer, temos a argumentação pelo absurdo, que se revela na contradição entre texto narrado e imagem, pela ironia desvendada nessa relação.

Assim, ao final do percurso narrativo-argumentativo, Jorge Furtado conclui sua história: “O que coloca os (os seres humanos) abaixo dos porcos é o fato de não terem dinheiro nem dono.”  E encerra acrescentando um dado à definição de ser humano: “o ser humano se diferencia dos outros animais pelo telencéfalo altamente desenvolvido, pelo polegar opositor e por ser livre“.

Recorrendo à definição do dicionário: “Livre é o estado daquele que tem liberdade”. Para completar com Cecília Meirelles:  “Liberdade é uma palavra que o sonho humano alimenta que não há ninguém que explique e ninguém que não entenda“. Na tela, o que vemos é a miséria  e sofrimento de seres humanos, que vivem em condições piores que porcos.

Este texto foi adaptado do original publicado no Porta Curtas. Para acessar o texto original, clique aqui 

Texto Original: Maria Salete Prado Soares

Edição: EducaRede

(CC BY-NC Acervo Educarede Brasil)

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