Sexualidade: qual a sua dúvida?


Sexualidade: qual a sua dúvida?

Professores e estudantes fazem perguntas sobre o assunto ao médico Jairo Bouer,
durante chat no EducaRede

 

Na época do Carnaval, o tema “sexualidade” ganha destaque na mídia. Na escola, a festa pode ser um mote para tratar de questões como mudanças no corpo, DSTs (Doenças Sexualmente Transmissíveis), gravidez precoce, Aids e alterações no comportamento.  Mas não se engane: as dúvidas dos alunos rondam a sala de aula o ano todo. No entanto, muitos professores têm dúvidas sobre como agir diante dessas questões e trabalhar o tema em aula.

Em bate-papo realizado no EducaRede, professores e alunos entrevistaram o médico Jairo Bouer, especialista em sexualidade. Educadores perguntaram ao médico, conhecido entre os jovens, a respeito de atividades para as aulas e atitudes que podem adotar diante de situações inusitadas. Os estudantes também tiraram dúvidas. E, diferentemente do que acontece em aula, expuseram abertamente suas perguntas. Confira os melhores momentos desta conversa.

 

:: Sexualidade na escola

Mariana: Sou professora do Ensino Fundamental I (alunos de 1ª a 4ª séries) e gostaria de saber como posso trabalhar o tema sexualidade com crianças dessa faixa etária?

Jairo Bouer, colunista da Folha de S. Paulo e apresentador de programas de TV sobre sexualidade
Foto: Divulgação

Jairo Bouer: É importante trabalhar dentro do universo de experiências e percepções dessa faixa de idade. Para isso, você pode começar pesquisando o que eles sabem sobre o assunto. Começar com tratando do corpo e suas mudanças é sempre uma boa idéia.

Jarbas: Estamos na sala de Informática da nossa escola. Os alunos ficaram muito interessados em poder conversar com você. Queria que você sugerisse tipos de atividades como esta para tratar do assunto na escola.
Jairo: Discussão de filmes que abordam a questão da sexualidade, pesquisa coletiva na Internet sobre assuntos relevantes, peças de teatro, discussão de materiais em jornais e em revistas… Tudo isso pode colaborar para a discussão ficar mais bacana e mais interessante.

Marta: Qual a disciplina curricular mais adequada para abordar o tema sexualidade. Só Ciências? Por que não nas aulas de Português ou História, por exemplo?
Jairo: Não existe disciplina ideal e sim disciplina em que o professor está disposto a aprender e discutir o assunto.

Jarbas: É interessante envolver a comunidade local (pais, agentes de saúde etc.) nas atividades escolares. Mas como fazer isso para falar de sexo?
Jairo Bouer: É verdade. Você pode começar apresentando dados e estatísticas que comprovem o quanto falar de sexo com essa galerinha é importante.

:: Sem medo de tratar o tema

Renata: O que fazer com as crianças que ficam se masturbando na sala de aula?
Jairo: É preciso explicar que a masturbação é uma forma de buscar o prazer e que deve ser feita quando a pessoa está sozinha, em situação de privacidade. Não se pode permitir que a criança se masturbe numa situação inapropriada, como na sala de aula. E esse limite tem que ficar claro.

Mariana: Tenho um aluno de oito anos que apresenta comportamentos delicados. O que fazer para a classe respeitá-lo do jeito que ele é?
Jairo: Discutir as diferenças em sala de aula, sem colocar o aluno no foco das discussões é um começo. Até porque nem todo garoto com atitudes mais delicadas será homossexual. Se acontecer alguma situação extrema, um terapeuta pode ser convidado para conversar com a classe. Violência e agressividade devem ser punidas.

Priscila: Acho que minha professora tem vergonha de falar sobre sexo com a gente. Que dica você poderia me dar para que ela possa falar mais sobre esse assunto com a turma? Muitos alunos têm dúvidas.
Jairo: Elaborem uma lista com os assuntos que querem discutir e façam a proposta para a professora. Se ela se mostrar resistente, sempre existe a possibilidade de vocês montarem um grupo de estudos e checarem na Internet ou na biblioteca algumas dúvidas.

Zuleika: Gosto muito do seu programa. Gostaria de saber como é usar a mídia para falar de um assunto “médico”?
Jairo: A mídia é um importante e poderoso recurso para se trabalhar a informação. Prevenção, saúde, qualidade de vida são exemplos de temas que, quando bem trabalhados na mídia, podem causar um grande impacto positivo no comportamento das pessoas. É isso que a gente tenta fazer.

:: Dúvidas freqüentes

Carol: Tenho 13 anos e gostaria de saber sobre a sexualidade de meninas da minha faixa etária…
Jairo: As garotas hoje em dia começam as suas mudanças corporais, inclusive a menstruação, mais cedo do que em décadas passadas. O início da vida sexual também é mais precoce: hoje, em torno de 15,5 anos para vocês meninas… Mas isso não é regra. É importante estar bem informada, saber prevenir, negociar o uso da camisinha e ter responsabilidade sobre o que você está fazendo.

Cris: Você disse que a menstruação está vindo mais cedo agora do que antigamente. O que tem causado essa mudança?
Jairo: Provavelmente, a melhora do padrão nutricional da população e o fato de que as garotas estão atingindo um peso corporal maior mais cedo. Especialistas acham que a maior quantidade de estímulos em geral também poderiam ter um efeito nessa antecipação.

Lia Aparecida de Azevedo: A liberdade sexual, junto com a desestrutura familiar, podem ter influenciado o aumento de GLS (Gays, Lésbicas e Simpatizantes)?
Jairo: Em parte, a maior liberdade sexual junto com a diminuição de preconceitos e a existência de uma maior flexibilidade dos modelos de relacionamento e família possibilita para as pessoas viverem desejos e experiências sem tanto medo ou cobrança.

Miriam: É homossexualidade ou homossexualismo? Qual a diferença?
Jairo: Os especialistas preferem homossexualidade, que se refere a uma situação, e não homossexualismo, que poderia denotar distúrbio ou doença.

Marcos Faveri: Por que quando as mulheres têm sua primeira relação sexual, sua ?cabeça? muda? E o corpo também?
Jairo: O corpo não muda por causa da relação, mas a cabeça sim. Principalmente porque a primeira transa é vista quase como uma passagem para a vida adulta.

João Carlos: Tenho que ir ao médico com freqüência como as mulheres? Por que elas vão tanto ao ginecologista? Como saber se o ginecologista é bom pra atender minha namorada?
Jairo: As mulheres devem ir ao ginecologista pelo menos uma vez por ano. O critério de indicação é pessoal e tem a ver com as referências que se recebem do médico e da empatia que surge entre o médico e o paciente. O garoto não precisa ser consultado com a mesma freqüência, mas é bom visitar um médico sempre que houver dúvida.

(CC BY-NC Acervo Educarede Brasil)

 

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