Passagem da infância para a adolescência

 

Passagem da infância para a adolescência

Este artigo reflete sobre a adolescência e como melhorar as nossas possibilidades de acompanhá-la durante a crise que é denominada “crescer”

 

*Por Juliana Villate Quevedo

Tradução: Flextime Language Center

 

 

A adolescência é uma etapa crucial no desenvolvimento do indivíduo, caracterizada por posturas de conduta e de pensamento extremadas, mutáveis e flutuantes que dão a esse período um aspecto de turbulência. Na passagem do adolescente para idade adulta, vive-se uma série de conflitos internos que se refletem de diversas maneiras no comportamento, atitude e relações interpessoais.

Todas as características da personalidade do adolescente, que às vezes podem parecer estranhas, são mecanismos que a personalidade assume como defesa contra a angústia provocada pela difícil transição para a idade adulta. Essas diferentes manifestações podem ou não ser classificadas de acordo com a função adaptativa que realizem no desenvolvimento e na integração da personalidade do indivíduo.

Alguns desses mecanismos são apropriados, como o interesse pelos esportes, a intelectualização, a sublimação através da arte, a participação em grupos ecológicos ou de música. Outros, porém, são completamente indesejáveis, como as manifestações violentas, o fracasso escolar, o repúdio ao núcleo familiar ou a submissão a grupos de fanáticos, bandidos, ao álcool ou às drogas.

Entre esses dois extremos, outras manifestações são encontradas, tais como o horror à banalidade, a propensão a fazer de si mesmo alguém excepcional e único, o gosto pelo excêntrico, a tendência de querer reformar o mundo ou a indiferença extrema a tudo o que o rodeia. O isolamento em relação às atividades familiares e sociais, os problemas referentes à imagem corporal, as condutas alimentares inadequadas, a dificuldade para expressar os conflitos e/ou dilemas, os problemas para relacionar-se com o sexo oposto, a resistência às atividades intelectuais, a depressão mascarada com formas de isolamento ou violência, a desconfiança consigo mesmo e os sentimentos de desânimo também são expressões das angústias pelas quais o adolescente passa.

Todas as manifestações citadas anteriormente são a expressão mais genuína das dificuldades pelas quais o adolescente passa no seu processo de adaptação à idade adulta e a justificativa mais clara e simples da necessidade imperativa de criar espaços terapêuticos e formadores, onde possamos acompanhar e orientar tanto o adolescente como a família na passagem por essa crise.

Os adolescentes têm uma especial predisposição para sofrer depressão. A adolescência é marcada por um movimento constante das emoções, de dúvidas e incertezas. Não obstante, essa etapa geralmente é superada sem maiores problemas. Em determinados casos ocorrem alterações da conduta que podem representar um estado depressivo subjacente, evidenciado pela rebeldia, isolamento acentuado, insônia, fadiga incomum e dificuldade para concentrar-se. Muitas vezes pais e professores não identificam a tempo tais condutas, e o quadro pode se tornar crônico ou mesmo levar os jovens a refugiar-se nas drogas e no álcool.

Os adolescentes me enternecem muito. Meus amigos dizem que é porque não tenho filhos, não sei. O fato é que essas figuras compridas, deselegantes e desajeitadas que entram no meu consultório, com um olhar apreensivo e obrigadas pelos pais, me ensinam mais do mundo do que muitos livros e cursos. O adolescente é um rapazinho ou uma mocinha no último período de formação repleto de lutas internas para encontrar-se em um mundo caótico e em uma família que nem sequer intui ou assimila o que ele vive. São obrigados a conviver com mães angustiadas porque vão envolver-se com drogas, ou porque escolheram a música ao invés da medicina, ou porque passam muito tempo com os amigos. Estamos falando de meninos grandes, quase adultos, ansiosos por uma sexualidade que estão começando a sentir e aflitos com a necessidade de atuar diante de um entorno hostil que não oferece explicações e, além disso, os julga. São indivíduos complicados, profundos, cheios de angústias existenciais, pequenos filósofos ateus que estão descobrindo o mundo, seu mundo, seu corpo, seus sentidos, suas dores.

Aprendi, durante todos estes anos como terapeuta, que grandes discursos não são suficientes para convencer um jovem de que o moicano punk não é fundamental para argumentar um conceito e que se envolver em confusões com todo mundo é um gasto desnecessário de energia. Agora sei que, com uma atitude receptiva, cortês e aberta posso ganhar sua confiança. Nunca faço acordos contra os pais, mesmo que no momento de confrontá-los muitos opinem o contrário. Apenas trato os adolescentes com respeito e com afeto. Nada mais.

Sempre sou sincera e sempre me entendem. Não tento manipulá-los nem permito ser manipulada, porque sou consciente de que deve existir respeito mútuo para que exista confiança. Reconheço os seus esforços, legitimo as suas lutas e tento aceitar as suas ideias com serenidade e sem julgamentos. Da mesma maneira, sendo franca e forte, sinalizo os seus erros de critério e explico a inutilidade de algumas de suas condutas de rebeldia. Eles entendem, admiram e respeitam o fato de ter uma figura que acredita e os ajuda a se autorregular a partir do convencimento do seu próprio valor.

Os adolescentes são muito inteligentes. Fazem bobagens apenas quando seu inconsciente se revela indignado pela injustiça de uma situação ou por um julgamento errado. Entretanto, do mesmo modo, são capazes de entender que o bom caminho é o melhor e que fazer as coisas bem é mais fácil. No entanto, para poder chegar até eles com essa mensagem, é indispensável aceitá-los, respeitá-los e amá-los, senão qualquer tentativa será em vão.

* Juliana Villate Quevedo é médica Psiquiatra e Psicoterapeuta da Pontificia Universidad Javeriana – Bogotá e médica Homeopata da Fundación Hahnemann de Colombia. Trabalha como psicoterapeuta homeopata há 15 anos em Bogotá e combina a sua atividade profissional com o interesse pela literatura, filosofia, história, antropologia, artes e algumas disciplinas como a meditação e o yoga. No seu primeiro livro para o público em geral integra a teoria psicodinâmica com os conceitos éticos e espirituais necessários para viver melhor.

 

(CC BY-NC Acervo Educarede Brasil)

 

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